SEMANA DE CONTROLE À LEISHMANIOSE TRAZ ALERTA SOBRE DOENÇA


Enfermidade pode afetar animais e humanos

O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), Nélio Batista de Morais, chamou a atenção para a importância da Semana Nacional do Controle e Prevenção à Leishmaniose, iniciada hoje (4), para alertar a população sobre os cuidados para evitar a doença que afeta animais e seres humanos. 

“É uma doença grave, caso não tenhamos tratamento em tempo oportuno. As chances de ir a óbito são superiores a 90%”, observou Morais, sobre a doença em humanos.

A leishmaniose visceral, conhecida popularmente como calazar, era uma endemia rural até a década de 1970, que acontecia no semi-árido do Nordeste. Com as mudanças ambientais e a urbanização do país, ocorreu uma mudança do perfil epidemiológico radical do calazar. A doença migrou então, inicialmente, para grandes cidades nordestinas, como as capitais do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, passando, mais adiante, para o estado do Pará, na região Norte. No Centro-Sul do país, foram identificados também surtos de calazar em Belo Horizonte, cidade de perfil distinto do nordestino.

A expansão territorial da enfermidade prosseguiu para cidades do Mato Grosso do Sul, como Campo Grande, e do oeste de São Paulo, entre as quais Presidente Prudente e Araçatuba. Por último, chegou à Região Sul do Brasil, expandindo-se até a Argentina, revelou Nélio Batista de Morais. “Foi uma mudança de perfil extremamente radical pela adaptabilidade do seu vetor”. O vetor da leishmaniose visceral é o mosquito-palha (‘Lutzomyia longipalpis’) infectado pelo protozoário ‘Leishmania chagasi’.

Ciclo de reprodução

Esse mosquito, muito menor do que uma muriçoca, faz o seu ciclo de reprodução na matéria orgânica em decomposição no solo, como frutas, folhas e fezes de pessoas e animais. São mosquitos que não dão voos, mas saltos, e a fêmea faz repasto sanguíneo. Para saciar essa necessidade de sangue, ela busca uma fonte animal ou humana. Normalmente, no meio urbano, a fonte animal é o cão, que é extremamente sensível e vulnerável à ocorrência leishmanionse visceral. A doença é muito letal na população canina.

O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV explicou que o tratamento é extremamente complexo porque o tutor do animal deverá dedicar-se a à recuperação do cão enquanto o bichinho viver. Alguns animais respondem de forma satisfatória ao tratamento, outros não. “Vai depender muito da característica individual do animal em responder a esse tratamento”. Depois que o animal é diagnosticado e se submete a tratamento, ele vai precisar ser controlado e medicado durante toda a vida. Tem que ficar protegido, para que os mosquitos não venham a fazer rapastos sanguíneos nele, e deve ser submetido a exames periódicos para monitoramento.

Prevenção

Nélio Batista de Morais esclareceu que as drogas para animais não podem ser usadas em humanos e vice-versa. São medicamentos específicos. Para evitar que o cão adoeça, o importante é fazer a prevenção e a profilaxia, recomendou o especialista. Para isso, existem coleiras impregnadas com remédios que vão ser letais para o mosquito transmissor. Essas coleiras foram avaliadas pelo Ministério da Saúde e tiveram sua eficácia comprovada por estudo multicêntrico realizado em várias cidades brasileiras. “Onde essa coleira foi utilizada ela reduziu em torno de 50% os casos de leishmaniose visceral humana”, revelou. 

Tramita no ministério a aquisição dessas coleiras como forma de prevenção da Leishmanionse visceral humana, visando sua distribuição nas cidades consideradas com potencial de risco e que concentram maior número de casos. As coleiras serão usadas como fator de proteção para os cães e para as pessoas.

Outro mecanismo com efetividade comprovada são vacinas contra a leishmaniose visceral canina, que garantem a proteção individual do cão. Morais observou, porém, que não está garantido ainda que o cão vacinado representa proteção para o homem.

A Leishmaniose pode causar problemas dermatológicos no cachorro, como pelagem falha e opaca e perda de pelos em focinhos, orelhas e região dos olhos; diminuição de peso repentina – mesmo sem a alteração de apetite; anemia; apatia; vômitos e diarreia.

Doença negligenciada

Para humanos, a transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário ‘Leishmania chagasi’, causador da Leishmaniose Visceral.

O número de casos no Brasil está estabilizado há mais de 15 anos. A variação apresentada alcança entre 3 mil e 4 mil pessoas infectadas por calazar a cada ano. Todas as regiões brasileiras têm casos da enfermidade, sendo que 22 estados apresentam casos humanos e caninos. Por isso, é muito importante proteger o animal e, consequentemente, toda a família.


Agência Brasil

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